Janeiro Roxo: Brasil só perde para Índia em casos de hanseníase

Cerca de 30 mil novos casos de hanseníase são detectados todo ano. Hoje, a doença é tratável e curável de maneira gratuita pelo SUS

Fiocruz aderiu à campanha Janeiro Roxo e ilumina o Castelo Mourisco até o dia 27 de janeiro (foto: Peter Ilicciev)
Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!

Com cerca de 30 mil novos casos detectados todos os anos, o Brasil ocupa hoje a segunda posição no ranking de hanseníase no mundo, perdendo apenas para a Índia. Conhecida no passado como lepra, a doença incapacitante pode trazer danos ao paciente mesmo após a alta médica depois de curado. Mas hoje, felizmente, a hanseníase é completamente tratável e curável de maneira gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O paciente curado pode continuar a viver normalmente, sem as incapacidades físicas que são evitáveis se houver, em tempo hábil, diagnóstico e tratamento, que evitam a piora do caso, mesmo após a cura. Para conscientizar sobre a hanseníase, desde 2016, o Ministério da Saúde oficializou o mês de janeiro e a cor roxa para pontuar as campanhas educativas sobre a doença, que ainda é vista com muito preconceito e desinformação.

Em alusão ao Dia Mundial contra a Hanseníase (celebrado no último domingo de janeiro) e ao Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase (31/1), a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) realiza a Campanha Nacional de Prevenção à Hanseníase, conhecida como Janeiro Roxo.

O objetivo é alertar a população sobre a importância do diagnóstico e do tratamento precoces, informar sobre as opções terapêuticas disponíveis na rede pública e combater o preconceito em relação aos pacientes. A Fiocruz aderiu à ação e seu Castelo, no bairro de Manguinhos, no Rio de Janeiro, recebe iluminação especial de 25 a 27 de janeiro.

Castelo da Fiocruz recebe iluminação especial na cor roxa de 25 a 27 de janeiro (Foto: Divulgação)

Pesquisa sobre incapacidades físicas pós-hanseníase

Pela primeira vez o Brasil contará com um banco de dados nacional sobre incapacidades físicas ocasionadas pela hanseníase após a cura da doença. O mapeamento em mais de 200 municípios começa em março.

O Projeto Inquérito da Hanseníase no Brasil (Inqhans) é uma parceria viabilizada pelo Ministério da Saúde, por meio do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) e a Fundação Hospitalar Alfredo da Matta (Fuham), unidade de referência no tratamento da doença.

“Hoje, esse é um número desconhecido no Brasil. O paciente sai de alta e sai dos registros. Com o tempo, a incapacidade motivada pela doença pode aumentar no pós-cura e é preciso termos políticas públicas para combater esse problema e ajudar as pessoas incapacitadas”, afirma a diretora de Ensino e Pesquisa da Fuham, Valderiza Lourenço Pedrosa, coordenadora nacional do estudo.

O objetivo é estimar a magnitude das incapacidades físicas da hanseníase pós-alta por cura no Brasil, visando à implementação de políticas de cuidados voltados para prevenção, reabilitação e cirurgias, evitando piora e melhorando a qualidade de vida desses pacientes.

Para a diretora do ILMD/Fiocruz Amazônia, a médica sanitarista Adele Benzaken, a doença enfrenta o agravante de nos últimos dois anos, ter tido os índices de detecção reduzidos à metade em função da pandemia de Covid-19. “Essa é uma forma de se trazer à tona a problemática da hanseníase e estabelecer novas políticas públicas de respostas à infecção”, diz ela.

Diagnóstico de pacientes que tiveram alta nos últimos 5 anos

O trabalho de campo terá atividades realizadas por equipes multidisciplinares formadas por profissionais de todo o Brasil. Para viabilizar o projeto, foi realizado um levantamento dos diagnósticos de hanseníase dos últimos cinco anos que tiveram alta por cura no Brasil. Um cálculo por amostragem permitiu identificar os locais para realização das coletas de dados.

Além do Inqhans, o projeto Ação para Eliminação da Hanseníase (Apeli), também viabilizado por meio da parceria com a Fiocruz Amazônia, tem a finalidade de aperfeiçoar as ações de diagnóstico e tratamento da hanseníase, objetivando atingir a eliminação total da doença.

“A hanseníase é uma doença que ainda ocorre em diversos recortes geográficos brasileiros e esse estudo trará à tona uma realidade até então desconhecida do nosso sistema de saúde”, explica a coordenadora. Neste caso, o recorte geográfico escolhido é o da Região Norte.

Mais de mil profissionais da rede pública dos nove estados da chamada Amazônia Brasileira já estão sendo capacitados. Por meio do sistema de Educação a Distância (EAD), médicos, fisioterapeutas, enfermeiros e bioquímicos da Fuham recebem informações sobre diagnóstico, tratamento, avaliação de incapacidade, baciloscopia da pele (parte laboratorial), estigma da doença, entre outros aspectos.

Os dois projetos juntos permitirão uma maior visibilidade ao problema da hanseníase no Brasil e um combate efetivo ao avanço da doença, que continua a crescer e atingir as camadas mais pobres da população brasileira.

O melhor remédio para o preconceito é a informação

Quando o recorte é a cidade do Rio de Janeiro, cerca de 300 casos de hanseníase são identificados anualmente. E, mesmo diante desse cenário, a patologia continua sendo alvo da desinformação e do preconceito, o que torna cada vez mais urgente os esforços dos órgãos em prol da conscientização sobre a importância do diagnóstico precoce e seu tratamento.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS-Rio), com apoio do Instituto Mauricio de Sousa, lança campanha no Facebook e no Instagram que busca combater o estigma e o preconceito sobre a hanseníase, por meio de suas redes sociais. O post propõe que “o melhor remédio para o preconceito é a informação” e traz a Turma da Mônica para ilustrar um importante recado.

A ilustração foi criada para conscientizar sobre o Janeiro Roxo, mês dedicado a alertar a população sobre a doença e a orientar para o tratamento, oferecido em todo o país pelo Sistema Único de Saúde. O diagnóstico é realizado por meio de consulta médica em todas as clínicas da família e centros municipais de saúde. O doente não necessita de isolamento e pode – e deve – seguir com a sua vida normal, enquanto faz o tratamento com a medicação fornecida gratuitamente pelo SUS.

Leia mais

ONU de olho no aumento de casos de hanseníase no Brasil
Mudança no tratamento da hanseníase pode beneficiar pacientes
Janeiro Roxo: tratamento precoce pode curar a hanseníase
Tecnologia assistiva: mais dignidade a pacientes de hanseníase

Hanseníase: entenda os principais sintomas

Negligenciada pela sociedade, que transformou a pauta em um grande tabu, a hanseníase faz parte do cotidiano do brasileiro. A doença infecciosa provoca lesões na pele e afeta os nervos periféricos e pode acometer pessoas de ambos os sexos em qualquer faixa etária e, se não for tratada a tempo, pode levar a severas deformidades físicas.

Os sintomas da doença incluem lesões com alteração de sensibilidade na pele, caracterizadas por manchas esbranquiçadas ou avermelhadas, caroços e/ou placas pelo corpo. Geralmente, as lesões não incomodam os pacientes, uma vez que não coçam, não ardem ou doem.

Porém, os enfermos também podem apresentar febre e mal-estar, olhos ressecados, inchaço e dores nas mãos, pés e articulações, áreas com falhas de pelo, perda das sobrancelhas, nariz frequentemente entupido e fisgadas e sensações de choque nos cotovelos e tornozelos, entre outros sintomas.

Indicadores da doença no Amazonas

De acordo com o Boletim Epidemiológico 2020, da Fundação Hospitalar Alfredo da Matta, foram notificados 122 casos de hanseníase em Manaus, dos quais 85 (69,7%) foram casos novos, 23 (18,8%) recidivas, 11 (9%) outros reingressos e 3 (2,4%) transferências.

Os 85 casos novos de 2020 correspondem a 35,7% dos casos notificados em todo o estado e 85% dos casos notificados em Manaus. Em todo o estado do Amazonas, o número de registros foi de 310 casos. Em relação a gênero, o predomínio de casos é em homens.

O boletim também revela que a detecção de casos em menores de 15 anos é um dos indicadores utilizados para medir a transmissibilidade recente da doença. Em 2020, foram detectados sete casos (8,2%) nessa categoria. Em todo o Brasil, foram 17.979 casos.

“O Amazonas sempre foi referência no combate à hanseníase, por conta do trabalho da Fundação Hospitalar Alfredo da Matta, que conseguiu reduzir as taxas da doença no Estado e até hoje mantém um rígido controle na detecção e tratamento de novos casos, além das ações de conscientização sobre risco de contaminação”, afirma a especialista.

Dias Mundial e Nacional da Hanseníase

O último domingo do mês de janeiro marca o Dia Mundial Contra a Hanseníase, um projeto de luta iniciado há 68 anos pelo missionário que inspirou o surgimento da Brasil Saúde e Ação (Brasa), Raoul Follereau, um jornalista francês que percebeu ser preciso haver compaixão, antes de tudo com aqueles que eram dispensados e isolados da vida em sociedade.

Doença infecciosa transmitida por um bacilo (Mycobacterium leprae), a hanseníase teve seu nome alterado no Brasil em 1976, para ajudar a reduzir o preconceito que, por muitos anos, levou os pacientes a sofrer rejeição e exclusão social. Essa mudança ocorreu por uma iniciativa do médico dermatologista Abrahão Rotberg, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal São Paulo (EPM/Unifesp). No dia 31 de janeiro é o Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníasedata instituída pela Lei nº 12.135/2.009.

Fonte: Agência Fiocruz, com Redação (atualizado em 30/01/22)

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!

You may like

In the news
Leia Mais
× Fale com o ViDA!